Descrição
Publicado originalmente em 1º de fevereiro de 2021, este vídeo do escritor e crítico literário brasileiro Rodrigo Gurgel explora O Grande Código: a Bíblia e a Literatura, uma obra do renomado pensador canadense Northrop Frye.
O livro surgiu de um curso ministrado por ele na década de 1940, onde Frye percebeu que seus alunos não compreendiam as referências bíblicas presentes em grandes obras, como Paraíso Perdido, de John Milton. A partir disso, desenvolveu um estudo profundo sobre a influência da Bíblia na formação do imaginário literário, chegando à conclusão de que toda a literatura ocidental está impregnada de imagens e narrativas de origem bíblica.
Em outras palavras, Frye, um dos mais influentes críticos literários do século XX, defende que a Bíblia não pode ser ignorada como obra central da literatura ocidental.
A Bíblia como um código universal
O título do livro foi inspirado no poeta William Blake, que descreveu a Bíblia como o “grande código da arte“. Segundo Blake (e Frye), as Sagradas Escrituras não são apenas textos religiosos, mas um repositório simbólico fundamental para a cultura ocidental.
O impacto da Bíblia na literatura pode ser visto de diversas formas:
- Como fonte de arquétipos, moldando personagens, conflitos e temas essenciais.
- Como modelo narrativo, influenciando a estrutura de épicos, peças teatrais e romances.
- Como referência metafórica, presente em obras de escritores como Dante, Shakespeare, Dostoiévski e T. S. Eliot.
Frye argumenta que não compreender a Bíblia é não compreender a literatura ocidental, pois os grandes escritores dialogam constantemente com suas imagens, metáforas e estruturas narrativas.
Os três níveis da linguagem
Para Frye, a história da linguagem pode ser dividida em três fases:
- A fase metafórica – Dominada pelo pensamento mítico, onde a linguagem e a realidade estão completamente misturadas. Os deuses da mitologia, por exemplo, são personificações simbólicas das forças da natureza.
- A fase metonímica – Marcada pelo pensamento lógico e pelo surgimento da filosofia, onde a linguagem começa a organizar o mundo de forma racional.
- A fase descritiva – Iniciada no século XVII, quando a linguagem passa a se basear na ciência e nos fatos, separando-se do mito e da metáfora.
A Bíblia, segundo Frye, opera principalmente na fase metafórica, ou seja, suas histórias e imagens não podem ser lidas apenas como relatos históricos, mas também como arquétipos universais que moldam nossa imaginação.
A relação entre Antigo e Novo Testamento
Outro conceito central de O Grande Código é a tipologia bíblica, ou seja, a ideia de que o Novo Testamento cumpre e reinterpreta o Antigo Testamento.
Por exemplo:
- A história de Moisés e o Êxodo é um tipo (um arquétipo) do que será a redenção em Cristo.
- A figura de Adão é um tipo de Cristo, visto como o “novo Adão” que traz redenção para a humanidade.
Essa estrutura cíclica, onde os eventos passados prefiguram os eventos futuros, foi fundamental para moldar a visão cristã da história e influenciou profundamente a literatura ocidental.
Frye vs. a crítica moderna
Diferente de muitos teóricos contemporâneos que buscam desconstruir a tradição literária ocidental, Frye via a Bíblia como um elemento de continuidade, não de ruptura.
Rodrigo Gurgel destaca que, ao contrário de figuras como Jacques Derrida, que introduziu a desconstrução na crítica literária, Frye defendia que a literatura deveria ser reconhecida como um sistema simbólico que preserva e recria significados ao longo do tempo.
O que Frye propunha, portanto, era uma reconstrução imaginativa da tradição literária ocidental, onde a Bíblia desempenha um papel essencial.
Um livro essencial para entender a literatura
Em O Grande Código, Northrop Frye demonstra como a Bíblia estruturou nossa forma de contar histórias, compreender o mundo e interpretar a própria literatura. Em seu vídeo, Rodrigo Gurgel reforça que este livro é indispensável para qualquer um que queira entender as raízes culturais do Ocidente e como elas se manifestam na literatura.
Por fim, se a Bíblia moldou o imaginário coletivo da humanidade, então, logicamente, ignorá-la é ignorar o próprio fundamento da arte e da literatura.
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Mais informações
- Duração: 38:23
- Categorias: Análises
- Canal: Rodrigo Gurgel
- Marcador(es): Cultura, Literatura, Rodrigo Gurgel
- Publicado por: Equipe Direita Realista
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